quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Posições temáticas - parte 2: Ataque ao roque


São muitas as situações em que nos deparamos com sacrifícios sobre o roque, justamente onde o rei encontrava-se “protegido”, salvo de todas as ameaças oportunistas. No entanto, nem sempre o roque é o guardião de todas essas ameaças indesejadas sobre o rei. Se não houver o complemento da proteção efetiva de peças, evitar o avanço desnecessário de peões, as debilidades tornam-se evidentes para o início de um ataque fulminante. Técnicas como ataque duplo, sobrecarga, desvio e demolição da estrutura de peões são algumas das artimanhas que um ataque ao roque pode empreender. Portanto, aquele que se defende deve ter sempre em mente estas situações, para que não entregue a partida tão repentinamente, sem ao menos esboçar luta. Vejamos alguns exemplos:

No diagrama 1 (Zelevinsky x Berevin, URSS 1957), vemos uma anormal estrutura de peões negra da ala do rei. O avanço provocou debilidades que as brancas aproveitaram rapidamente. As duas diagonais (a1-h8 e b1-h7) estão agora totalmente dominadas pelos bispos brancos e a coluna f está sob o domínio da torre branca. Praticamente todas as peças brancas concorrem para a investida final sobre o rei negro, exceto a torre de a1, mas o arsenal disponível para o ataque já é suficiente. Vejamos o que seguiu: 1. Bh7+! C:h7 2. T:f7! (demolição) 2. ... R:f7 (Se 2. ... Cf8 3. Tg7+ Rh8 4. T:d7 com ganho de qualidade) 3. D:h7+ Re6 4. Bc7! (liberação da coluna e, com ganho de tempo) 4. ... Dd7 5. Te1+ e as negras abandonaram em vista do mate com 5. ... Rf6 6. Ch5 ++.



Diagrama 1
Zelevinsky x Berevin, URSS 1957



No diagrama 2 (Karpov x Kramnik, Montecarlo 1998), a fase final já se instalou, mas as debilidades do roque negro são sérias, o que leva as brancas a demonstrarem com o lance 1. Dc8!, as negras seguiram com 1. ... Tf8? (Mais resistência haveria com 1. ... Dd2! 2. Dg4+ Rf8 3. Rg2 Dc7, com considerável vantagem branca, mas ainda muito chão pela frente. Se 1. ... T:c8 2. T:c8+ Rg7 3. C:f5+ Rg6 4. Tg8+ Rh5 5. g4++) 2. Dg4+ Rh8 3. Tc8! (agora é a torre que toma ligar na batalha), as negras se renderam tendo em vista que 3. ... T:c8 (3. ... D:a3 4. Cf5 com mate em g7) 4. D:c8 Rg7 5. Cf5+ Rg6 6. Dg8+ Rh5 7. g4 ++.



Diagrama 2
Karpov x Kramnik, Montecarlo 1998


No diagrama 3 (Furman x Jolmov, URSS 1963), outro final bem parecido com o anterior, só que agora a combinação de Dama, Bispo e Torre sobre o roque adversário. Veja como a atividade das peças concorre para que a demolição do roque adversário seja possível. Obviamente que as peças negras (Dama, Torre e cavalo), não estão bem dispostas, permitindo o assalto final. Furman seguiu com o demolidor 1. T:h6+ g:h6 (se 1. ... Rg8 2. Th8+ R:h8 3. D:h6+ Rg8 4. D:g7++)  2. Df5+ Rg8 3. Dg4+ Rf8 4. Dg7+ Re7 5. De5+ Rf8 ( se 5. … Rd8 6. Db8+ Re7 7. Bc5+ +-, ganhando a dama negra) 6. Bc5+ e as negras abandonaram, visto que 6. ... Ce7 7. Dh8 ++ ou se 6. ... Rg8, perdem grande quantidade de material.



Diagrama 3
Furman x Jolmov, URSS 1963


Esses foram alguns exemplos de ataque ao roque inimigo. Perceba, leitor amigo, que vários fatores contribuem para isso: a atividade das peças, a debilidade da estrutura de peões adversária e passividade e desconexão das peças de defesa. Inclusive esta última acaba sendo vítima do próprio ataque, como vimos no exemplo do diagrama 3, onde a dama e torre poderiam ser capturadas em algumas das variantes mostradas. Nesse tipo de ataque há que se ter um pleno domínio do cálculo de variantes para não desperdiçar as reais chances de ataque ou até mesmo perceber a necessidade de agregar mais peças para que o ataque seja vitorioso. Há inúmeros outros casos onde aquele que empreende o ataque valoriza mal a posição e colhe pesada decepção quando percebe que nada levou os demasiados sacrifícios feitos, restando inclusive abandonar a partida. Outras tantas situações podem ser remediadas com um salvador cheque perpétuo ( Veja a postagem anterior, onde Dubov, apesar da grande maestria, foi confrontado com uma tenaz defesa do seu adversário, restando buscar o salvador cheque perpétuo.

Ao leitor amigo deixo meu conselho: especialize-se em tática, lendo as literaturas disponíveis, resolvendo os exercícios propostos nos livros e, com certeza, colherá frutos. Não que a tática norteie seu caminho, isso vai muito do estilo de cada jogador, mas saber enfrentar esses momentos, tanto na defesa quanto no ataque, poupar-lhe-á tempo precioso no relógio, além de desenvolver esse instinto tático tão necessário para um bom enxadrista.

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