Durante uma partida de xadrez,
daquelas que são transmitidas ao vivo pela internet, muitos de nós gostamos de
acompanhar com os programas do lado, para ver se o Grande Mestre executará
conforme a “máquina” (Lê-se: Programa de Xadrez). E qual não é nossa decepção
quando o lance esperado não está conforme o que o programa de xadrez indica
como melhor? Mas será que aquele lance realizado por um Grande Mestre estava
realmente errado? Será que o Grande Mestre não viu o “óbvio”? Essas são algumas
das tantas perguntas que nos assolam.
Outros fatores levam um Grande
Mestre a escolher entre um determinado lance ao invés do “tecnicamente
correto”. Um desses fatores pode ser simplesmente o problema do apuro de tempo,
quando o relógio começa a ser tornar um vilão, fazendo com que o GM tome
decisões rápidas, e portanto, passíveis de erro. Outro fator poderia ser que
tal lance “tecnicamente correto” não esteja de acordo com o estilo do jogador,
que tende a ter sempre uma postura agressiva, evitando sempre uma posição
passiva ou vice-versa. Para termos um exemplo, vejamos a partida realizada no festival
internacional de Biel, entre Bologan x Wang Hao (01/08/12), onde Wang Hao optou
em assumir uma postura agressiva, quando deveria realizar um lance que lhe custaria
uma defesa passiva e prolongada (Diagrama 1).
Diagrama 1, após 40. Te2 (Bologan x Wang Hao, Biel 2012)
Nessa posição, Wang Hao (Negras)
optou em jogar o agressivo 40. ... Ce5 ?,
considerado perdedor pelos programas de xadrez, que indicavam ser o melhor 40. ... Ce8 abrindo a diagonal a1-h8
para o bispo negro em apoio às torres e dama e mantendo o cavalo para deter o
possível avanço do peão “d” das brancas. De certo que 40. ... Ce8 aparentemente tem uma característica passiva, pelo que
provavelmente Wang Hao não concordou em assumir, levando-o a manter sua postura
agressiva com a investida pela ala da dama (colunas “a” e “b”) combinada com o
assalto dos cavalos pelo centro, na intenção de obter um ataque salvador sobre
o rei branco. Nesse caso, Bologan (Brancas), apoiou-se no cálculo exato de
variantes para nortear-se diante dessa postura agressiva de seu adversário,
sendo bem sucedido, visto que ganhou a partida após superar algumas
dificuldades táticas. Vejamos o que seguiu: 41. T:b2 T:b2 42. Bd4 Dg3 (essa
era a real intenção de 40. ... Ce5), 43.
B:b2 (aceitando o sacrifício) 43. ... Cf3+ 44. T:f3 e:f3 45. Dd2! C:d5
46. C:f5! (Bologan está atendo as
suas possibilidades sobre o rei negro e também adota uma postura agressiva para
finalizar a partida) 46. ... f2+ 47.
Rf1 Dh2 48. R:f2 (única) 48. ... B:b2 49. Dh6+ e negras abandonam (Diagrama 2), tendo
em vista as inúmeras ameaças de mate e ganho de qualidade. Por ex: 49. ... Rg8 50. D:g6+ Rf8 51. Dh6+ Rf7 52.
Cd6+ Re7 53. Dh7+ Rd8 54. Dg8+ Re7 55.
Df7+ Rd8 56. De8+ Rc7 57. Dc8 ++ (Diagrama 3).
Diagrama 2, após 49. Dh6+
Diagrama 3, após 57. Dc8++
Como vemos, caro leitor,
determinadas decisões que tomamos muitas vezes se baseiam em nosso próprio
estilo, como jogador, do que no cálculo ou avaliação exata da posição. Uma
postura passiva para um determinado jogador pode ser inadmissível, no entanto,
para outro pode ser apenas uma fase que deva cumprir diante de determinada
posição, o que poderemos classificar como “tecnicamente correto”. Para Wang Hao
(Negras), o lance 40. ... Ce8 possa
ter soado passivo demais ao seu estilo, preferindo as complicações táticas
advindas de 40. ... Ce5.
Dificilmente poderemos criticar seu
estilo e sua opção por 40. ... Ce5,
tendo em vista que, em se tratando de pessoas, o erro se justifica. Nesse caso,
o “erro” foi humanamente correto, no entanto, nem sempre é a melhor postura a
seguir, visto que no xadrez, como na vida, quem não segue a determinadas regras
pode pagar um alto preço por isso.
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