terça-feira, 31 de julho de 2012

O Conceito básico de aberturas – Parte 1


Emanuel Lasker (1868–1894) disse a seguinte frase: "Os peões são a alma do xadrez". Mesmo para o xadrez contemporâneo fica difícil refutar essa afirmação, ainda que tenhamos a tendência de “mobilidade” das peças mais em moda do que as estruturas clássicas de peões como ditames de uma partida. Os peões ainda são essencialmente importantes, pois a medida que se chega em posições de finais, tornam-se potencialmente candidatos a coroação. O que vemos hoje é uma evolução abismal da teoria de aberturas, que apoiada nas tecnologias atuais (computadores, banco de dados, etc), renascem aqui e acolá o que antes fora condenado pela teoria clássica de aberturas.

Mesmo com todos os aparatos tecnológicos, o estudo de uma determinada abertura nunca perde o seu princípio básico, e porque não dizer: romântico. Para entender e se aprofundar em uma determinada abertura o enxadrista não pode ignorar esse princípio, pois se torna pedra angular para compreensão. Vejamos, por exemplo, a clássica abertura Ruy Lopez após: 1. e4 e5 2. Cf3 Cc6 3. Bb5 (Diagrama 1).

 

 

Diagrama 1

 

A princípio a idéia básica, além do desenvolvimento de uma peça, aparenta ser a intenção de capturar o peão de “e5”, após a troca do bispo pelo cavalo de c6, mas essa idéia é totalmente errônea, visto que as negras possuem recurso de defesa, por exemplo: 3. ... a6 4. B:c6 d:c6 4. C:e5 Dd4 !, Atacando simultaneamente o peão de “e4” e o cavalo (Diagrama 2).


  

Diagrama 2

No entanto, a idéia básica de 3. Bb5 reside oculta até a sequência de trocas iniciada com 3. ... a6 4. B:c6 d:c6 5. d4 e:d4 6. D:d4 D:d4 7. C:d4 (Diagrama 3).

 



Diagrama 3

Se olharmos para a posição do diagrama 3, apenas imaginando os peões e os reis, então entenderemos qual foi essa oculta intenção das brancas quando executaram 4. B:c6 (Diagrama 4), ou seja: criar uma maioria de peões na ala do rei. Perceba que na ala da dama, as negras não possuem essa maioria de peões, devido aos peões dobrados na coluna “c”.



Diagrama 4

Obviamente que a defesa contra essa variante das trocas da abertura Ruy Lopez, desenvolveu-se bastante ao ponto de compensar essa posição com outros fatores como o par de bispos negros, no entanto, Bobby Fischer obteve vários triunfos com essa idéia básica, e tantos outros jogadores de fortíssimo nível. Hoje a abertura Ruy Lopez continua sendo amplamente utilizada, surgindo novos conceitos quanto ao posicionamento do bispo branco (b5), como vemos no diagrama 5.



Diagrama 5

Uma coisa não se pode negar quando pensamos na idéia básica da abertura Ruy Lopez: A formação de peões. Ainda que obedecendo a certos princípios estratégicos clássicos, não se pode negar a importância dos peões, como apontava Emanuel Lasker ("Os peões são a alma do xadrez").

 

Na segunda parte desse enunciado, veremos o tratamento dado a defesa siciliana, variante Sveshnikov (O Conceito básico de aberturas – Parte 2), onde a estrutura de peões não segue regras clássicas e a mobilidade das peças torna-se papel fundamental para justificar tal estrutura de peões

 

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