terça-feira, 31 de julho de 2012

O Conceito básico de aberturas – Parte 1


Emanuel Lasker (1868–1894) disse a seguinte frase: "Os peões são a alma do xadrez". Mesmo para o xadrez contemporâneo fica difícil refutar essa afirmação, ainda que tenhamos a tendência de “mobilidade” das peças mais em moda do que as estruturas clássicas de peões como ditames de uma partida. Os peões ainda são essencialmente importantes, pois a medida que se chega em posições de finais, tornam-se potencialmente candidatos a coroação. O que vemos hoje é uma evolução abismal da teoria de aberturas, que apoiada nas tecnologias atuais (computadores, banco de dados, etc), renascem aqui e acolá o que antes fora condenado pela teoria clássica de aberturas.

Mesmo com todos os aparatos tecnológicos, o estudo de uma determinada abertura nunca perde o seu princípio básico, e porque não dizer: romântico. Para entender e se aprofundar em uma determinada abertura o enxadrista não pode ignorar esse princípio, pois se torna pedra angular para compreensão. Vejamos, por exemplo, a clássica abertura Ruy Lopez após: 1. e4 e5 2. Cf3 Cc6 3. Bb5 (Diagrama 1).

 

 

Diagrama 1

 

A princípio a idéia básica, além do desenvolvimento de uma peça, aparenta ser a intenção de capturar o peão de “e5”, após a troca do bispo pelo cavalo de c6, mas essa idéia é totalmente errônea, visto que as negras possuem recurso de defesa, por exemplo: 3. ... a6 4. B:c6 d:c6 4. C:e5 Dd4 !, Atacando simultaneamente o peão de “e4” e o cavalo (Diagrama 2).


  

Diagrama 2

No entanto, a idéia básica de 3. Bb5 reside oculta até a sequência de trocas iniciada com 3. ... a6 4. B:c6 d:c6 5. d4 e:d4 6. D:d4 D:d4 7. C:d4 (Diagrama 3).

 



Diagrama 3

Se olharmos para a posição do diagrama 3, apenas imaginando os peões e os reis, então entenderemos qual foi essa oculta intenção das brancas quando executaram 4. B:c6 (Diagrama 4), ou seja: criar uma maioria de peões na ala do rei. Perceba que na ala da dama, as negras não possuem essa maioria de peões, devido aos peões dobrados na coluna “c”.



Diagrama 4

Obviamente que a defesa contra essa variante das trocas da abertura Ruy Lopez, desenvolveu-se bastante ao ponto de compensar essa posição com outros fatores como o par de bispos negros, no entanto, Bobby Fischer obteve vários triunfos com essa idéia básica, e tantos outros jogadores de fortíssimo nível. Hoje a abertura Ruy Lopez continua sendo amplamente utilizada, surgindo novos conceitos quanto ao posicionamento do bispo branco (b5), como vemos no diagrama 5.



Diagrama 5

Uma coisa não se pode negar quando pensamos na idéia básica da abertura Ruy Lopez: A formação de peões. Ainda que obedecendo a certos princípios estratégicos clássicos, não se pode negar a importância dos peões, como apontava Emanuel Lasker ("Os peões são a alma do xadrez").

 

Na segunda parte desse enunciado, veremos o tratamento dado a defesa siciliana, variante Sveshnikov (O Conceito básico de aberturas – Parte 2), onde a estrutura de peões não segue regras clássicas e a mobilidade das peças torna-se papel fundamental para justificar tal estrutura de peões

 

A Fraude nas Olimpídas de Xadrez de 2010


Desde 2010 haviam rumores de escândalo de fraude descoberto pela Federação de Xadrez Francesa. Alguns de seus jogadores na Olimpíada de Xadrez 2010, vinham recebendo informações de lances gerados por computador durante os jogos. A suspensão dos três jogadores envolvidos na conspiração foi agora confirmado pelo Comitê de Ética da FIDE que na sua decisão formulou um documento de 26 páginas fornecendo alguns detalhes novos.


 
Veja o início do texto:

A Comissão de Ética da FIDE acaba de lançar a sua decisão sobre o assunto de fraude que aconteceu entre 21 de setembro de 2010 a 3 de outubro de 2010, na Olimpíada de Khanty-Mansiysk, na Rússia. As decisões são aplicáveis ​​a partir de 01 de agosto de 2012. A Comissão suspendeu Arnaud Hauchard por três anos, Sébastien Feller por dois anos e nove meses, e Cyril Marzolo por um ano e seis meses.

A decisão diz ainda que a Secretaria da FIDE e Conselho Presidencial FIDE serão informados da presente decisão "para todas as possíveis consequências relacionadas com os resultados dos jogos disputados pelo Sr. FELLER Sébastien durante a Olimpíada de Xadrez 2010, sobre classificações, rankings e prêmios ." O que isso significa? Que os resultados do Sr. Feller em Khanty-Mansiysk serão declarados inválidos, no entando, pode ser muito difícil  reajustar as classificações da FIDE em conformidade com essa nova situação. Por outro lado, o GM Mateusz Bartel poderá reclamar o prémio de melhor performance do torneio (5000 Euros), tendo em vista ter sido prejudicado com a fraude em questão.

Em meio a tanta tecnologia disponível para o aprimoramento individual, ainda existem pessoas capazes de se valer desses recursos para amealhar migalhas de reconhecimento, quando poderiam demonstrar a sua força por seu próprio esforço. De certo que esse não deve ser o único e último caso, muitos haverão por aí, mas cabe a um regulamento rígido impor sansões claras como punição a esse tipo de comportamento.

Fonte: http://chessbase.com/newsdetail.asp?newsid=8370

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Jose Raul CARLSEN Capablanca


O festival de xadrez internacional em Biel 2012 (Suíça), conta com vários torneios e simultâneas, tendo como principal evento o torneio de grandes mestres entres os quais participa Magnus Carlsen (2837), com 21 anos. Atualmente encontra-se na 7ª rodada (30/07/12), tendo sido liderado pelo chinês Wang Hao (2739) até a 6ª rodada. O único detalhe é que o chinês Wang Hao perdeu suas únicas duas partidas (turno e returno), para Magnus Carlsen, o que é de se admirar, já que Carlsen figurava na terceira posição até essa 5ª rodada. Carlsen obteve uma vitória contra Bologan na 6ª rodada, passando para 2ª posição e hoje culminou na primeira colocação com uma vitória ao estilo Capablanca, em um final de cavalos bastante instrutivo (Veja Diagrama 1).


Wang Hao (Brancas) teve a partida praticamente em suas mãos até o lance 45, com uma boa posição de seus cavalos e a possibilidade de infringir uma defesa muito passiva ao seu adversário, mas em vez disso, preferiu tomar de imediato o peão passado negro de a4 com o lance 46. Cdb2 ? (melhor seria 46. b6!) , quando se deparou com um pequeno golpe tático de Carlsen (Negras) com 46. ... Cb6 !, onde Carlsen conseguiu manter seu peão de vantagem, finalizando com bastante apuro da seguinte forma: 47. Rf2 Cfd7 48. Re3 Rf8 49. f4 f5 50. e:f5 e:f5 51. Rd3 Re7 52. Ca3 Cf6 53. Cbc4 C:c4 54. C:c4 Ce4 55. Ce5 Rd8! 56. g4? f:g4! 57. C:g4 Cd6 58. b6 Rc8 59. Ce3 Rb7 60. Cd5 Rc6 0-1.


Essa partida tomou esse caráter de final de cavalos nada mais, nada menos, após o 13º lance, onde os bispos foram trocados e ficaram apenas cavalos, damas e torres, sendo que a medida que a partida ia evoluindo, Carlsen parecia que poderia resistir cada vez mais ao ataque na ala da dama de Wang. Impressiona-me pela resistência defensiva de Carlsen e pela sobriedade em aproveitar o momento da vantagem, visto que Wang teve 45 lances para definir a posição, mas Carlsen teve apenas um instante para poder virar o jogo a seu favor, e o fez com maestria de Grande Mestre como o é, assim como o fazia o genial Capablanca, em seus finais didáticos e avassaladores. Fica ao leitor amigo a lição de que a oportunidade sempre aparece e temos que estar sempre atentos para aproveitá-la e concretizá-la.

A “difícil” arte de concretizar uma Vantagem material


O objetivo principal do xadrez é dar xeque mate ao rei adversário, no entanto, para se chegar a esse fim os meios são, muitas das vezes, um caminho cheio de pedras a se transpor. No xadrez moderno, salvo exceções raríssimas, o xeque mate não chega a ser consumado, pois o adversário possui ainda a opção de simplesmente abandonar a partida, dando a vitória ao seu oponente. Para o iniciante a decepção é evidente, visto que foge daquele objetivo que ele tanto se agarrou: dar o xeque mate! E talvez, por isso, o interesse pelo xadrez possa se esmaecer pouco a pouco.

A medida que vai evoluindo, um enxadrista percebe que os meios são na verdade a essência do xadrez. Os conceitos de estratégia, de tática, o conhecimento em aberturas, em finais, são todo um legado que carrega para se chegar ao fim desejado. Em geral a vantagem material é, por fim, a coroação de toda essa investida ao adversário. È, talvez, a última pedra a se transpor para se chegar, em fim, ao xeque mate. E quando essa vantagem material é evidente? Como podemos administrá-la até o fim? O quão difícil é mantê-la, principalmente se nosso adversário não abandona? Essas são algumas das muitas perguntas que nos assolam durante uma partida, principalmente nas partidas oficiais, onde o relógio é um vilão em potencial. Mas, vejamos alguns exemplos para melhor compreendermos esse tema:



 Diagrama 1

No diagrama 1 acima, percebemos que a vantagem material das brancas é evidente. Um bispo e um peão pronto para coroar. Nessa posição, jogam as brancas e desafortunadamente resolveram realizar o plano da coroação com 1. f7+, que foi respondido com 1. ... Rh7. Aparentemente nada aconteceu, mas as brancas continuaram com seu plano e seguiram com 2. f8=D? (lance ruim), culminando com a coroação em Dama! Percebe-se que após o último lance das brancas não resta mais nada do que se conformar com o empate! Sim, empate! Visto que o rei negro está na posição de afogado, o que é um tipo de empate. Com isso, vemos que todo o esforço de conseguir a vitória foi desperdiçado num único lance, o que deve ser muito decepcionante! Uma solução razoável poderia ser a coroação em Torre (2. f7=T), pois assim o rei negro teria a casa g7 para se mover, não caindo (brancas) na armadilha do rei afogado.Vejamos outro exemplo mais sutil:


 
 Diagrama 2

No diagrama 2 acima, as brancas possuem um cavalo a mais, mas querendo resolver a partida de forma mais rápida, resolvem tentar a simplificação em “grande estilo” com a combinação 1. D:d7? D:d7 2. Cf6+ Rg7 3. C:d7, ganhando mais um cavalo! Porém, se olharmos com mais atenção percebemos que agora são as brancas que estão perdidas com a simples resposta 3. ... Te1 ++ (cheque mate). Antes de efetuarem a combinação iniciada com 1. D:d7?, poderiam resolver todos os seus problemas com o simples 1. f3 e se as negras prosseguissem com 1. ... f5, seguiria a combinação com 2. D:d7 D:d7 3. Cf6+ Rg7 4. C:d7, pois agora o mate em e1 não seria mais possível, tendo em vista que a casa f2 serviria de escape ao rei branco.

Existem inúmeros exemplos desse tipo no xadrez. A vantagem material, muitas vezes, nos traz certo alívio e dessa forma acabamos por relaxar durante a partida, despreocupando-nos de ocultas ameaças, ainda que elementares, como a nos dizer: Estou ganho, agora é só esperar o abandono do meu adversário. Portanto, leitor amigo, não pense que isso possa acontecer unicamente com você. Até mesmo os Grandes Mestres se deparam com esses problemas. Para que evitemos ao máximo esse problema, requer tratar a posição com vantagem material de forma técnica e sempre respeitando o adversário, pois como já dizia um Grande Mestre: “No xadrez, quem ganha é sempre o que comete o penúltimo erro.”

domingo, 29 de julho de 2012

Conheça-te a ti mesmo


 
De certo que a frase remonta a Sócrates e sua filosofia, mas longe de criar uma análise crítica à sua filosofia, o texto em epígrafe tenta chamar a atenção a um detalhe que poucos se atentam, quando no desenvolver da aprendizagem enxadrística: A análise das próprias partidas.

Obviamente que um enxadrista metódico poderá apontar e seguir vários caminhos em seu aprendizado, contando atualmente com vários meios, entre eles: livros, professores, artigos, computadores, etc. O que tento levar ao leitor amigo é apenas um entre esses tantos recursos. A análise das próprias partidas jogadas, fundamentadas na sua atual força enxadrística, tende a melhorá-lo como jogador, antes mesmo que você perceba, e talvez você nem mesmo atribua a isto o seu desenvolvimento ou melhora, mas tenha certeza de que será de grande valia para seu aprimoramento.



Não me refiro somente a análise fria e calculista, baseada em variantes exatas e validadas por engines de programas de computador. Não! Falo aqui da análise mais profunda, comentando em seus apontamentos não só os erros ou o que melhor convinha em determinada posição, mas também retratando a psicologia da situação, a necessidade de aperfeiçoar esta ou aquela abertura, de se aprofundar em determinada teoria de finais, de praticar determinados temas táticos, de aprimorar a administração do tempo, entre outras tantas áreas da teoria e da prática enxadrística.

Exemplos não faltam por aí. Vemos vários livros de análises de fortíssimos jogadores a relatarem as suas aventuras no afã de cada partida. Alekhine, Brosntein, Smilov, Botvinnik, são todos exemplos de como podemos nos desenvolver com a aplicação dessa filosofia de Conheça-te a ti mesmo.

Um bom conselho é reservar um caderno ou mesmo criar um arquivo de texto onde você possa fazer as análises das partidas jogadas. O ideal é fazê-lo pouco tempo após o término de um torneio, ou da própria partida mesmo, tendo em vista as idéias estarem mais claras e frescas. Paulatinamente você terá um cabedal de informações que lhe servirá de consulta. Quando chegar o momento em que você se flagrar rindo de suas próprias análises passadas, perceberá o quão maior se tornou desde então e verá que a filosofia do conheça-te a ti mesmo valera à pena.

Final de Reti


Richard Réti foi um dos principais jogadores do mundo durante os anos 1910s e 1920s, ele começou sua carreira como um jogador combinativo conforme a escola clássica, favorecendo aberturas como o Gambito do Rei (1.e4 e5 2.f4). Entretanto, depois do fim da Primeira Guerra Mundial, seu estilo de jogo sofreu uma mudança radical, e ele se tornou um dos principais proponentes do hipermodernismo, junto com Aron Nimzowitsch e outros (Fonte: wikipedia)

Dentre seus estudos acerca das várias fases do xadrez (Abertura, Meio jogo e Final), tornou-se o mais famoso o  estudo de final entitulado “Final de Réti” (Diagrama 1).



Final de Réti. Jogam as brancas e empatam.

As brancas encontram-se num dilema sem solução, aparentemente. Ir atrás do peão passado negro (h5) ou apoiar o seu próprio peão passado (c6)? Apoiando-se a este dilema, percebe-se que não lhes resta senão abandonar visto que as análises de variantes comprovam a ineficácia dos dois planos. Vejamos:

Plano 1 - Ir atrás do peão passado negro (h5):

1. Rh7 h4 2. Rh6 h3 3. Rh5 h2 4. Rh4 h1=D+ e as negras coroaram em Dama, restando poucos lances para dar mate ao rei branco.

Plano 2 – Apoiar o próprio peão passado (c6):

1. Rg7 h4 2. Rf7 Rb6! (evitando a aproximação do rei branco) 3. Re7 R:c6 e as negras capturam o peão branco, podendo facilmente coroar seu próprio peão passado.

No entanto e se as Brancas pudessem aliar os dois planos de tal sorte que forçassem as negras a perder tempo na escolha do que fazer, ou seja: devolver a elas o mesmo dilema que as atordoavam? Será que há solução? Vejamos então:

Plano 3 – Conciliar a ameaça de captura do peão passado negro (h5) com a ameaça do apoio ao próprio peão passado (c6):

1. Rg7 h4 2. Rf6! Rb6 (ou 2. ... h3 3. Re7 h2 4. c7 Rb7 5. Rd7 h1=D 6. c8=D+ e as brancas conseguem coroar dama, o que levará ao empate certo) 3. Re5!! h3 ( 3. ... R:c6 4. Rf4 h3 5. Rg3 e as brancas conseguem capturar o peão passado negro, com empate salvador) 4. Rd6! h2 5. c7 Rb7 6. Rd7 h1=D 7. c8=D+ coroando também em dama e conseguindo uma posição de empate teórico.

Acredito que no xadrez, como na vida, determinadas situações que nos parecem perdidas, com um pouco mais de análise e serenidade, podem ser resolvidas. O que aparentava ser uma posição perdida para as brancas possuía uma solução. Esse é um dos exemplos do porque que o xadrez se torna tão fascinante!

Cavalo ou Bispo?



Muitos jogadores iniciantes e até mesmos jogadores de bom nível, excetuando-se, é claro, os Mestres e Grandes Mestres, possuem esse dilema. O que vale mais: Cavalo ou Bispo? Em algumas partidas tive a oportunidade de me deparar com essa pergunta, quando em uma determinada situação havia a possibilidade de trocar Cavalo por Bispo ou vice-versa. Alguns adversários torciam a face quando acontecia esse tipo de situação, como a dizerem: Perdi meu cavalo! Ou: Perdi meu Bispo!

Em todos os manuais de iniciação há a referência ao valor relativo dessas duas peças que por coincidência ou não é 3 (três). Veja bem, leitor amigo, o valor é relativo, portanto, existem outros fatores que pesam nessa valorização. Uma delas é a mobilidade, outra pode ser a posição da peça no tabuleiro. Vastos estudos sobre aberturas, meio-jogo e finais ponderam justamente sobre esse aspecto, ou seja: o valor relativo dessas peças sobre o tabuleiro.

O Diagrama 1 retrata a posição onde o bispo é superior ao cavalo. O bispo possui mais mobilidade que o cavalo, está mais bem posicionado, podendo ir de um lado ao outro do tabuleiro em menos tempo. Nessa situação, o valor do Bispo é relativamente maior que a do cavalo, ninguém há de discordar. Dessa forma, não seria bom para as negras a troca do bispo pelo cavalo, através de 1. ... B:c3.


Diagrama 1

O Diagrama 2 vemos de um relance que a “mobilidade” do cavalo é superior a do bispo, visto que este último encontra-se com movimentos limitados em função de seus próprios peões. Outro fator seria a posição em que o cavalo ocupa, em um posto central, intocável e protegido pelo próprio peão de seu bando. Em função disso, o valor do cavalo seria muito maior que a do bispo adversário, portanto, não teria fundamento prosseguir com a troca 1. C:e7.


 Diagrama 2

Esses dois exemplos retratam claramente quando um é superior ao outro. Se o leitor amigo atentar um pouco mais para as duas posições mostradas, verá que os peões tiveram bastante influência nessa valorização relativa das duas peças (Bispo e Cavalo). No Diagrama 1, a estrutura de peões está móvel, podendo facilmente avançar. Veja que nessa posição o rei e bispo poderão apoiar o avanço dos peões da ala da dama e assim obter um peão passado que provavelmente lhes dará a vitória. Já o diagrama 2, a estrutura de peões está fixa (bloqueada) e o que é pior, os peões negros estão em casas da cor da casa dos bispo negro, dificultando sua mobilidade e deixando as casas brancas livres para que Cavalo e Rei brancos possam invadir a posição pela ala do rei.

É claro que existem outras tantas formas de valorização e que podem indicar se uma troca entre bispo e cavalo seja boa ou má, no entanto, o leitor pode se basear por esses princípios básicos quando enfrentar o dilema dessa troca: Mobilidade e Posicionamento. Ditames estes que podem selar a sorte da partida, tando para a vitória, quanto para a derrota.




Como evitar o Mate Pastor?

Esta posição surge após os seguintes lances: 1. e4 e5 2. Bc4 Bc5 3. Dh5

 .
Muitos iniciantes aspiram a todo o custo esse tipo de mate, tendo em vista ser uma poderosa e rápida finalização ao adversário. No entanto, com um pouco mais de atenção podemos demonstrar como se refutaria esse tipo de investida, ou seja: valorizando as possibilidades de defesa através do cálculo de variantes subsequentes a 3. Dh5. Cabe ao iniciante observar que a visão antecipada de lances não é um bicho de sete cabeças, mas pode ser desenvolvida a custo de treino e concentração. Vejamos:
 

Jogam as negras

Esta posição não é a mais clássica para se efetuar o mate pastor, mas nos servirá de base para analisarmos como refutá-la, já que quem joga agora são as negras. Vejamos: A ameaça é o sutil 4. Dh7 xeque mate. Quais seriam as possibilidades de defesa? De imediato podemos listar 3 ou 4 possibilidades: 3. ... Cf6, 3. ... g6, 3. ... Ch6 e 3. ... De7. Isso é muito importante, pois na maioria das vezes, quando não avaliamos corretamente as intenções do adversário, poderemos entrar em uma posição desfavorável, ou até mesmo levar um mate! Agora que identificamos as possibilidades, vamos por a prova através do cálculo dessas variantes:

a) Ameaçando a dama branca com o cavalo: 

3. ... Cf6? ( a interrogação é uma referencia a um lance ruim ), apesar da Dama branca estar ameaçada pelo cavalo, não se evitou o mate... então 4. D:f7++ brancas ganham.

b) Ameaçando a dama com o peão: 

3. ... g6? dessa forma se evita o mate, mas a Dama, muito bem posicionada, segue com outro xeque que ganha a torre de h8. Segue: 4. D:e5+ De7 5. D:h8 com vantagem material, mesmo após um pequeno susto com 5. ... D:e4+ 6. Ce2, pois agora as negras não podem tomar o Bispo de c4, porque o cavalo de g8 está indefeso também.

c) Defendendo o peão de f7 com o cavalo: 

3. ... Ch6? Esse lance defende o mate, mas as negras caem numa pequena cilada com perdas materiais. Segue: 4. d4! (Ameaçando de imediato o bispo. Parece uma entraga de peão por nada!!, mas...) 4. ... B:d4 5. Bg5! e não ( 5. B:h6?!, por que há defesa com 5. ... Df6! ameaçando B:b2 ganhando a torre de a1) 5. ... g6 (recurso indireto para evitar a perda da dama negra) 6. D:h6 f6 7. Dg7! e as brancas ficam com vantagem decisiva, pois ameaçam novamente mate em f7, ameaçam tomar a torre de h8 e ainda ameaçam tomar o peão de f6 capturando a dama negra a seguir.

d) Defendendo o peão com a dama:

3. ... De7! Essa sim é uma defesa satisfatória, pois elimina praticamente todas as ameaças diretas sobre o peão f7. O que poderia seguir após esse lance é a refutação mais que definitiva do ataque branco, tendo em vista que a dama branca agora se vê muito exposta as ações das peças negras. Vejamos: 4. Cf3 Cc6 (defendendo o peão de e5) 5. Cc3 Cf6 6. Dg5 0-0 e as negras refutam o mate, protegem seu  rei e planejam seguir com d6 e Be6 com posição satisfatória.

Como o leitor vê, dentre as 4 possibilidades eleitas nos deparamos com a comprovação de que uma delas era suficiente para a defesa. Obviamente essa análise, em uma partida oficial, consumiria tempo precioso, mas com a prática é possível adminstrá-lo com tranquilidade. Bom, pelo menos agora o leitor não precisará mais gastar tempo com análises, pois já sabe que o mate pastor pode ser refutado rapidamente. Por fim, existe outra possibilidade interessante, ou seja: 3. ... Df6, um pouco mais agressiva pois agora são as negras que ameaçam em f2 (Veja o bispo de c5 apontando para f2), mas demandaria mais tempo em análises, o que deixo ao leitor essa tarefa.

Brancas jogam e ganham!



quarta-feira, 11 de julho de 2012

Qual o melhor plano para o empate? Negras jogam!



terça-feira, 10 de julho de 2012

World Blitz Chess Championship 2012

 

 

Nos dias 9 e 10 de julho aconteceu em Astana, Kazkhstan o Campeonato mundial de Blitz ( 3 min + 2 s) vencido por Grischuk, seguido por Carlsen (NOR) e Karjakin (RUS). Até a 27ª rodada Karjakin liderava triunfantemente e nada parecia que iria atrapalhar seus planos, mas teve a infelicidade de perder duas seguidas (28ª e 29ª), para Mamedyarov (AZE) e Carlsen respectivamente, e empatar na última rodada. De qualquer forma Karjakin já havia se tornado campeão mundial de xadrez rápido (15 min) no dia 8 de julho.

 

 

O campeonato teve a participação do desafiante (infelizmente derrotado) a título mundial de xadrez 2012, Boris Gelfand (ISR), que ficou em décimo lugar. Obviamente o xadrez nas modalidades Rapid e Blitz não reflete a verdadeira força do jogador, mas demonstra a boa preparação em teoria de aberturas e raciocínio rápido. Baixe aqui as partidas em pgn.


Palavras iniciais


Esse é um blog dedicado ao xadrez, mas sem a pretensão de manter atualizado sobre os acontecimentos locais, nacionais ou até mesmo internacionais. De forma alguma! Meu interesse é apenas de divulgação de informações sobre xadrez. Espero que o internauta amigo goste e participe de nossas postagens, trazendo, se possível, sugestões para que eu possa melhorar o nível de informações.